sexta-feira, 8 de junho de 2012

Um Método com Propósitos

purpose-driven-church-330x502O livro “Uma Igreja com Propósitos” já vendeu mais de um milhão de cópias em 20 idiomas e é considerado livro-texto em centenas de Seminários. Contudo, apesar da incrível popularidade de Rick Warren e outros como ele, existem inúmeros problemas com o movimento de crescimento de igreja, começando com a sua origem.
Embora Rick Warren tenha negado a acusação de que seria um discípulo de Robert Schuller, em seu livro é possível identificar uma efusiva aprovação ao método de Schuller. Além do mais, de acordo com um artigo de revista Christianity Today, a esposa de Warren, Kay Warren, declara: “Ele [Schuller] teve uma profunda influência sobre Rick”. [1]
O pai do movimento de crescimento da igreja é o desconhecido missionário Donald McGavran, suas obras tiveram um impacto profundo no ministério de Rick Warren.
“Enquanto folheava, vi algo que me chamou a atenção: a foto de um homem com cavanhaque muito interessante e que tinha um grande brilho nos olhos. O título do artigo era mais ou menos assim: “Por que este homem é perigoso?” Então sentei e li o artigo sobre Donald McGavran. Não poderia imaginar que a leitura daquele artigo teria um impacto em meu ministério tão grande quanto o meu encontro com o Dr. Criswell”.[2]
O artigo descreve como McGavran, um missionário nascido na Índia, passou todo o seu ministério estudando o que faz a igreja crescer. Anos de pesquisa o levaram a escrever The Bridges of God (As pontes de Deus) em 1955 e mais dúzias de livros sobre crescimento de igreja. Sua conclusão não foi o resultado de uma cuidadosa exegese, mas de observação daquilo que funcionava. “Eu formava e testava quaisquer princípios de crescimento de igreja. Durante aqueles longos e difíceis anos, Deus me concedeu considerável discernimento sobre como as igrejas crescem. A teoria e teologia básicas do movimento de crescimento de igrejas estavam sendo forjadas sobre a bigorna da observação e da análise disciplinadas da experiência da igreja entre muitos povos da Índia.”[3]
Ou seja, neste sentido, não importa o que as Sagradas Escrituras dizem a respeito da igreja, ela se torna secundária, sendo utilizada apenas para “provar” os princípios de Mcgavran.
O mais conhecido aluno e sucessor de McGavran na Escola Fuller de Missões Mundiais foi C. Peter Wagner, um dos membros fundadores do Comitê de Lausanne sobre Evangelização Mundial. Wagner, amigo íntimo do falecido John Wimber (fundador do movimento Vineyard), que se autodenominava “apóstolo” é um dos principais promotores do movimento carismático. Do Seminário Fuller a filosofia do crescimento de igreja se espalhou pelo mundo. Em seu livro, “Uma Igreja com Propósitos”, Rick Warren recomenda uma lista de pregadores, entre eles, Robert Schuller e John Wimber.
Entretanto, Robert Schuller se considera o fundador do movimento de crescimento de igreja. Ele afirmou: “Um fato histórico indiscutível é que eu sou o fundador, realmente, do movimento de crescimento de igreja neste país... Eu defendi e lancei o que ficou conhecido como a abordagem de marketing no Cristianismo.[4] “Durante décadas, temos visto a igreja na Europa Ocidental e na América declinar em poder, membresia e influência. “Acredito que esse declínio seja o resultado de se colocar as afirmações teocêntricas acima do atendimento às necessidades emocionais e espirituais mais profundas da humanidade”.[5] Schuller acreditava que o grande defeito do cristianismo moderno é “o fracasso em proclamar o evangelho de um modo que possa satisfazer a necessidade mais profunda de cada pessoa, ou seja, o anseio espiritual pela glória humana. Assim como Robert Schuller, Warren passou 12 semanas indo de porta em porta fazendo um levantamento das “necessidades” do povo.[6] Este é o foco principal de sua igreja e também a chave para seu sucesso de crescimento; marketing!
Contudo, concordo plenamente com Phil A. Newton, “Em vez de gastar muito tempo e dinheiro desenvolvendo novas estratégias de marketing para o crescimento do número de membros, as congregações se beneficiariam se sua liderança mergulhasse na Palavra de Deus”.[7]
Robert Schuller foi educado na Igreja Reformada da América. Em 1951 entrou no pastorado na Hope Church, em Chicago. Em quatro anos, sua igreja cresceu de 38 para 400 membros. Em 1955, sua denominação o enviou para Orange County, Califórnia, para fundar uma nova igreja. Depois de tentar sem sucesso alugar numerosas instalações, Schuller finalmente alugou o Condado de Orange Drive-In. A intenção de Schuller era encher a igreja, e para isso, ele procurou descobrir o que as pessoas queriam. Ele foi de porta em porta, perguntando sobre que tipo de igreja eles gostariam de participar. Sua missão foi mudar a sua igreja para um lugar onde os não-cristãos se sentissem confortáveis ​​o suficiente para entrar e depois, eventualmente, “aceitar Jesus”. Isto seria realizado através apenas de pregações com mensagens “positivas”.[8] Nada sobre o pecado do homem e sua queda. A partir deste novo conceito, ele renovou seus sermões e construiu uma congregação com mais de 9000 membros, um ministério bem sucedido aos olhos humanos. “O erro clássico do nosso Cristianismo histórico é que jamais temos começado pelo valor da pessoa... Em vez disso, temos começado pela ‘indignidade do pecador’. “Este ponto de partida tem estabelecido o palco inicial da glorificação da vergonha humana na teologia cristã”.[9]
Em 1975, após ler o livro de Robert Schuller, “Your Church Has Real Possibilities”, Rick Warren e Bill Hybels ficaram impressionados e decidiram visitar Robert Schuller para saber mais. Hybels chamou o seu primeiro encontro com Schuller de “encontro divino”.[10]
Compactuando com o marketing na igreja e com o inchaço instantâneo do rebanho, Warren declarou: “Nos últimos sete anos, a igreja batizou mais de 9100 novos convertidos. Quando Deus tem um punhado de novos cristãos que quer libertar, ele busca como incubadora a igreja mais carinhosa que puder encontrar”.[11]
Até aqui, é possível afirmar que Rick Warren apóia o movimento de crescimento de igrejas. No prefácio do livro “Uma Igreja com Propósitos”, está registrado: “Estou orando para que cada pastor leia este livro, creia nele, esteja preparado para colocá-lo em prática e mude para sintonizar sua sabedoria sã e bíblica. Todos nós devemos ouvir e aprender com Rick Warren”, (Robert Schuller, pastor da The Crystal Cathedral, Garden Grove, Califórnia).
Além disso, Rick Warren também prefaciou um livro escrito por Dan Kimball intitulado “A Igreja Emergente: Cristianismo clássico para as Novas Gerações” (Kimball é um dos líderes do movimento). Warren declarou:
“Este livro é um detalhado, maravilhoso exemplo de que uma Igreja Dirigida por objetivo pode parecer em um mundo pós-moderno. Meu amigo Dan Kimball escreve apaixonadamente, com um profundo desejo de alcançar a geração emergente e a cultura. Enquanto meu livro Uma igreja com propósitos explica o chamado da igreja, o livro de Dan explica como aplicá-lo às pessoas criativas que pensam e sentem em termos de cultura pós-moderna. Você precisa prestar atenção nela porque os tempos estão mudando”.[12]
Enquanto Dan Kimball e outros promotores da igreja emergente podem ser sinceros em seus esforços para evangelizar a geração pós-moderna, eles se desviam da Palavra de Deus e enaltecem as experiências extras bíblicas. Em uma seção de seu livro, “verdadeira adoração a Deus em uma reunião de adoração”, ele escreve:
“Devemos retornar para uma abordagem não para adoração e ensino de modo que quando nos reunimos, não há dúvida de que estamos na presença de Deus. Eu creio que crentes e não crentes, em nossa cultura emergente estão com fome disso. Não se trata de apologia inteligente ou pregação exegética e expositiva cuidadosa ou grandes bandas de adoração... Gerações emergentes têm fome de uma experiência com Deus na adoração”.[13]
De forma semelhante, Warren afirma que Jesus atraia grandes multidões amando os incrédulos, suprindo suas necessidades e lhes ensinando “em formas práticas e interessantes”.[14] É verdade que Jesus falou de forma interessante e inteligível, e é assim que nós devemos pregar o evangelho. Contudo, Ele nunca “fantasiou” o evangelho para torná-lo mais palatável aos ouvidos dos incrédulos.[15]
Charles Haddon Spurgeon estava certo quando declarou: “Promover o entretenimento para as pessoas não é dito em parte alguma da Escritura como função da Igreja - se é um trabalho do cristão porque Cristo nunca falou sobre isso? Foram os profetas perseguidos porque divertiram o povo ou porque o rejeitaram?”[16]



[1] Stafford, Tim. “A Regular Purpose-Driven Guy”, Christianity Today, November 18, 2002.
[2] WARREN, Rick. Uma Igreja com Propósitos. São Paulo: Editora Vida, 2002, p. 33.
[3] MCGAVRAN, Donald and George Hunter III. Church Growth Strategies That Work. Nashiville: Abingdon, 1984, p. 17
[4] Pritchard, G. A. Willow Creek Seeker Services, Grand Rapids, Baker Books, 1998, p.51
[5] SCHULLER, Robert. Self-Esteen: The New Reformation. Waaco, Texas, Word, 1992, p. 12.
[6] WARREN, Rick. Uma Vida com Propósitos. São Paulo: Editora Vida, 2003, p. 139.
[7] NEWTON, Phil A. O Pastor e o Crescimento da Igreja: Como lidar com o moderno problema do pragmatismo. Em O Ministério Pastoral Segundo a Bíblia. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2007, p. 276.
[8] Michael, Nason and Donna Nason. Robert Schuller: The Inside Story. Waco: Word Books, 1983, p. 21
[9] SCHULLER, Robert. Self- Esteem the New Reformation. Word Books, 1982, p.162
[10] HYBELLS, Bill & Lynne. Rediscovering Church. Zondervan, Grand Rapids, MI, 1995, p. 69.
[11] WARREN, Rick. Uma Vida com Propósitos. São Paulo: Editora Vida, 2003, p. 166.
[12] KIMBAL, Dan. The Emerging Church: Vintage Christianity for the New Generation. Zondervan, 2003, p.7.
[13] KIMBAL, Dan. The Emerging Church: Vintage Christianity for the New Generation. Zondervan, 2003, p.185.
[14] WARREN, Rick. Uma Igreja com Propósitos. São Paulo: Editora Vida, 2002, p. 247.
[15] NEWTON, Phil A. O Pastor e o Crescimento da Igreja: Como lidar com o moderno problema do pragmatismo. Em O Ministério Pastoral Segundo a Bíblia. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2007, p. 278.
[16] Atribuído a Charles Haddon Spurgeon (1834-1892). Feeding Sheep or Amusing Goats? In: http://www.deceptioninthechurch.com/spurgeon3.html - Acesso: 16/05/2011.

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